sábado, 19 de dezembro de 2015

domingo, 22 de novembro de 2015

domingo, 13 de setembro de 2015

... temos de merecer a sorte que temos ...

"(...)Com certeza que estas pessoas trazem os seus problemas, os seus hábitos culturais e os seus traumas. Vai ser necessário um longo trabalho de adaptação mútua e diálogo intercultural. Mas recusar ajudá-los por medo e por comodismo é algo que combina mal com este continente rico e baseado em ideais humanistas no qual nos calhou em sorte nascer. (...)"

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Salão Londrino


“José Ezequiel Andrade herdou o negócio dos tios, que em 1937 criaram este recanto baptizado pela origem do seu primeiro cliente. Até hoje inalterada, a pequena loja permanece com os mesmos escaparates azuis, o mesmo balcão, o antigo reclame.
Bonés e chapéus de feltro, lã, terylene, algodão, bombazina, napa e impermeáveis vêm directamente de São João da Madeira, no Continente, onde são confeccionados.

Passaram já quinze anos, desde que o Salão Londrino abandonou a produção de chapéus de palha destinados à exportação para a Rodésia, África do Sul e Portugal. A chapelaria, que em tempos equipou o Casino do Estoril vive actualmente dos clientes fiéis e dos jovens, que alheios ao seu glorioso passado, aqui adquirem peças que fazem a moda dos dias de hoje. Na pequena montra, um busto vintage criado por um cliente austríaco à imagem da fundadora denunciam acarinhadas recordações de família.”

Como eu gostaria de puder salvar esta joia!

sexta-feira, 26 de junho de 2015

As velhinhas


Antónia e Filipa são duas velhinhas humildes que partilham tudo, apesar de o seu tudo ser quase nada: sopa de água de segunda a sábado e um esparguete a meias aos domingos. Mas são felizes ao contar com a sua maior riqueza: o afecto de uma pela outra.
 
Esta história demonstra que somos capazes de fazer coisas que parecem impossíveis pelas pessoas de quem gostamos, e que merece a pena chegar a velhos, mas muito velhos, para aproveitar tal como elas os grandes prazeres da vida — um grande banquete — ou os pequenos — um diminuto feijão —.
Charo Pita lembra-nos que a idade é um presente: está cheia de vida e de mistérios. Uma cara esculpida pelas rugas é como uma árvore milenária. O tronco grosso floresce a cada Primavera da mesma forma que uma pessoa idosa a cada amanhecer. Assim são Antónia e Filipa, aventureiras do dia a dia, do carpe diem.
As velhinhas é um conto de renascimento na velhice, com elementos mágicos próprios dos contos tradicionais, onde o cuidado, a paciência, a imaginação e a valentia transformam a rotina de duas mulheres idosas que gostam uma da outra com uma alegria e uma força capazes de vencer qualquer contratempo.
Fátima Afonso oferece-nos neste álbum uma amostra, contida mas eficaz, da sua demonstrada capacidade para gerar imagens de marcado carácter narrativo, com pontuais contraposições de texto-imagem que obrigam o leitor a resolver mínimos problemas de distanciamento que respeitam em todo o momento a função narrativa que emoldura e domina o discurso plástico.
A ilustradora portuguesa propõe uma generosa série de planos médios para desdobrar um discurso dominado sobretudo pelos acrílicos, com imagens repletas de sugestivos pormenores narrativos, o que permite desfrutar de uma leitura demorada e profunda.
 
Texto de Charo Pita
Ilustrações de Fátima Afonso
Tradução Dora Batalim Sottomayor

quarta-feira, 10 de junho de 2015

AS RAZÕES DA SINCERIDADE


Há quem não oculte as suas falhas. Há quem prefira ser pouco, mas inteiro, do que ter de se misturar com impurezas para parecer maior. Há quem nunca se molde às situações ao ponto de se tornar outro, perdendo-se de si mesmo. A sinceridade é a qualidade essencial do que, não sendo perfeito, é ainda assim valioso, porque real e autêntico.
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Ser sincero é mais do que ter um gesto exemplar ou uma palavra verdadeira. É ser inteiro em cada decisão, em cada palavra… Ser sincero é uma escolha que se renova a cada hora. 
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Todos falhamos. O erro é um sinal evidente de que somos limitados, mas é também o ponto a partir do qual cada um revela o que é. Uns ignoram, outros preferem desculpar-se, culpando quem não tem culpa. Outros ainda, poucos, reconhecem os seus erros e procuram emendar-se, não através de disfarces ou pinturas da superfície, mas de uma mudança mais profunda. 
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Só quem decide ser forte consegue chegar a ser sincero. É duro e supõe uma elevada capacidade de sofrimento. Por isso, não é algo que se deva esperar de pessoas fracas e pobres de vontade. 
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O sincero consegue resistir à maldade e seguir a direito, mesmo quando só parece haver caminhos tortos. Escolhe ser puro e inocente, pela força e coragem com que resiste a tudo o que o seduz e ameaça, mas que, na verdade, apenas o quer diminuir através da culpa. 
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Há pessoas que não procuram artifícios na sua relação com os outros, revelam-se tal como são. 
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Nunca é uma boa opção ocultar os nossos defeitos. Quem se delicia com as belas aparências raras vezes se importa com o que tem valor profundo. Assim como quem se preocupa com o valor real sabe que não há gente sem defeitos, fendas e fraquezas, e que a verdadeira integridade é a de nos reconhecermos como somos, não porque sejamos melhores, mas porque não queremos ser piores, criando ilusões.
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Uma pessoa sincera é igual a si mesma. Cresce, mas mantém-se fiel à sua pureza original. Não cria equívocos, embora prefira reservar para depois o que tem de melhor.
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Outros são os que se viram e reviram, dão voltas e mais voltas sobre si mesmos, a fim de, rastejando sempre, tentarem chegar ao que não é seu, ao que não são... apenas porque não têm força nem coragem para o ser. Escolhem o mais fácil: preferem parecer do que ser. Não se dão conta de que, por esse caminho a descer, não há senão vazios mascarados de coisas grandes.
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Quando a uma verdade se acrescentam umas quantas meias verdades, com intenção de que a mistura passe depois por pura e valiosa, o que se obtém é apenas uma mentira requintada. E, por mais apurada que seja, não deixará jamais de ser uma impureza. 
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Não é fácil dobrar alguém sincero e honesto. Porque, apesar do sofrimento que isso lhe custa, saberá que a verdade é sempre maior do que a malícia dos que tentam o que for preciso para que ninguém seja senão como eles.
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A hipocrisia é mais comum do que a sinceridade. É preciso crescer muito, ao ponto de nos tornarmos capazes da verdade mesmo depois das mentiras. Afinal, são as mesmas máscaras que nos escondem o que nos impede de ver o mundo e os outros tal como são... 
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A sinceridade jamais pode ser a razão para magoar alguém. Ser sincero é também saber escolher o que dizer e o que calar. Não devemos dizer tudo quanto pensamos, mais ainda se não o tivermos pensado com honestidade e inteligência. O silêncio é parte essencial da verdade e da sinceridade. 
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Se há palavras que são gestos dignos de louvor, também há palavras que só chegam a ser boas se forem cumpridas pelas mãos dos que ousam dizê-las. 
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Uma boa ação, ou uma palavra verdadeira, não perdem o seu valor só por ninguém o reconhecer... Parte da dureza da sinceridade é o abandono a que remete os sinceros… aqueles que se decidem a seguir pelo caminho que ruma ao céu. A direito.
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José Luís Nunes Martins 

quarta-feira, 6 de maio de 2015

O Amor não se Promete


Há uma distância fundamental entre as palavras e os gestos de cada homem. As palavras prometem mundos, os gestos constroem-nos. As palavras esclarecem pouco, os gestos definem quase tudo.

O amor é um projeto, uma construção que necessita de ser realizada a cada dia. Sem grandes discursos. Qualquer hora é tempo de amar. Se o amor é verdadeiro, não há tempos de descanso, porque o silêncio no coração dos que buscam lutar contra as trevas dos egoísmos é a paz mais profunda e o maior descanso... ainda que se cravem espinhos na carne, ainda que não sarem as feridas antigas, ainda que a esperança tenha pouco mais onde se apoiar do que nela própria.

Cada um de nós é aquilo que for capaz de ir construindo de firme e duradouro a cada dia por entre todas as tempestades da vida.

Há muito quem sonhe e passe o tempo a desejar o que não é... esperam e desesperam por algo que lhes há de chegar de fora... rejeitando quase tudo quanto são, quando, na verdade, é com o que temos e somos que devemos ser felizes, por pouco e por pior que seja... somos nós. Mas nós não somos quem somos só para nós mesmos. Eu sou quem sou, mas só o serei se for capaz de me encontrar com os outros. Ser humano é ser relacional. Ser é sempre ser com o outro. Ninguém se vê só a si quando se olha por um espelho. Ser é amar. Dar-se... sem grandes sonhos ou promessas, com pequenos gestos, na heroica coragem de acreditar que não são nem as palavras nem os desejos que nos devolvem ao céu.

Encarcerados nunca seremos autênticos, devemos pois libertar-nos de tudo quanto nos pesa, de forma especial das coisas materiais, romper com as teias dos sonhos que nos inebriam e incapacitam de sair de nós mesmos para o mundo, de criar mundo... sem esperar nada, a não ser conseguirmos chegar ao melhor de nós mesmos...

Este desprendimento não será prudente aos olhos do mundo, mas é essencial confiar e seguir adiante, até porque as coisas e as pessoas são o que são, independentemente da forma como os olhos do mundo as veem, sentem ou pensam...

Aos sonhos falta existirem de facto, realizarem-se, ou melhor, serem realizados por alguém. A existência é um dos mais belos e decisivos atributos para que algo se faça determinante da nossa felicidade. Por isso a realidade mais pobre é, ainda assim, mais bela que o sonho mais magnífico...

Quase todos os egoísmos têm nome de amor. Conscientes do que são, escondem-se. Normalmente juntam-se aos pares... fazem pouco, falam muito, prometem tudo.... entrelaçam as suas necessidades de ter mais, de estar melhor, sem cuidarem que cada homem é muito mais do que aquilo que tem ou do que forma como está... nós, humanos, não somos deste mundo... somos do lugar de onde chegámos quando nascemos e do lugar para onde havemos de ir depois da morte... um mundo de onde este faz parte, mas muito maior, muito melhor... muito mais profundo.

É pois importante procurar a vontade do outro, e encontrarmo-nos nela, sermos o melhor que ele pode receber e merecer...

Amar é arriscar tudo, sem garantia alguma. Apenas com a fé de que, no amor, nos cumprimos... Amar é desprender-se e perder-se... abrir-se e abandonar-se à vontade de ser feliz.

Só o amor permite que se cumpra a mais essencial de todas as promessas da existência: Uma vida com valor e verdade.

Quem ama não promete... dá.


José Luís Nunes Martins, in 'Amor, Silêncios e Tempestades'

sábado, 2 de maio de 2015

"Mar e Vento"


quarta-feira, 29 de abril de 2015

Para não perder o fio à meada ...


... aqui fica uma sombra próxima ...

“ Com o correr dos anos, observei que a beleza, tal como a felicidade, é frequente. Não se passa um dia em que não estejamos, um instante, no paraíso. Lourdes Castro

segunda-feira, 6 de abril de 2015

"O que Distingue um Amigo Verdadeiro"

O que Distingue um Amigo Verdadeiro

Não se pode ter muitos amigos. Mesmo que se queira, mesmo que se conheçam pessoas de quem apetece ser amiga, não se pode ter muitos amigos. Ou melhor: nunca se pode ser bom amigo de muitas pessoas. Ou melhor: amigo. A preocupação da alma e a ocupação do espaço, o tempo que se pode passar e a atenção que se pode dar — todas estas coisas são finitas e têm de ser partilhadas. Não chegam para mais de um, dois, três, quatro, cinco amigos. É preciso saber partilhar o que temos com eles e não se pode dividir uma coisa já de si pequena (nós) por muitas pessoas. 

Os amigos, como acontece com os amantes, também têm de ser escolhidos. Pode custar-nos não ter tempo nem vida para se ser amigo de alguém de quem se gosta, mas esse é um dos custos da amizade. O que é bom sai caro. A tendência automática é para ter um máximo de amigos ou mesmo ser amigo de toda a gente. Trata-se de uma espécie de promiscuidade, para não dizer a pior. Não se pode ser amigo de todas as pessoas de que se gosta. Às vezes, para se ser amigo de alguém, chega a ser preciso ser-se inimigo de quem se gosta. 

Em Portugal, a amizade leva-se a sério e pratica-se bem. É uma coisa à qual se dedica tempo, nervosismo, exaltação. A amizade é vista, e é verdade, como o único sentimento indispensável. No entanto, existe uma mentalidade Speedy González, toda «Hey gringo, my friend», que vê em cada ser humano um «amigo». Todos conhecemos o género — é o «gajo porreiro», que se «dá bem com toda a gente». E o «amigalhaço». E tem, naturalmente, dezenas de amigos e de amigas, centenas de amiguinhos, camaradas, compinchas, cúmplices, correligionários, colegas e outras coisas começadas por c. 
Os amigalhaços são mais detestáveis que os piores inimigos. Os nossos inimigos, ao menos, não nos traem. Odeiam-nos lealmente. Mas um amigalhaço, que é amigo de muitos pares de inimigos e passa o tempo a tentar conciliar posições e personalidades irreconciliáveis, é sempre um traidor. Para mais, pífio e arrependido. Para se ser um bom amigo, têm de herdar-se, de coração inteiro, os amigos e os inimigos da outra pessoa. E fácil estar sempre do lado de quem se julga ter razão. O que distingue um amigo verdadeiro é ser capaz de estar ao nosso lado quando nós não temos razão. O amigalhaço, em contrapartida, é o modelo mais mole e vira-casacas da moderação. Diz: «Eu sou muito amigo dele, mas tenho de reconhecer que ele é um sacana.» Como se pode ser amigo de um sacana? Os amigos são, por definição, as melhores pessoas do mundo, as mais interessantes e as mais geniais. Os amigos não podem ser maus. A lealdade é a qualidade mais importante de uma amizade. E claro que é difícil ser inteiramente leal, mas tem de se ser. 

Miguel Esteves Cardoso, in 'Os Meus Problemas'