terça-feira, 26 de agosto de 2008

À ESPERA DA COR

Não é sem algum pudor que falo da nossa casa. Escrínio da vida, como dizia Le Corbusier, lá se juntam afectos, longos silêncios, perguntas.
Lavada a sol a norte, lavada a sol a sul, dum lado há muitas árvores. Do outro, as árvores entram-lhe pelas varandas. E o espelho do mar também, que é como eu gosto de chamar ao céu.
Com o crescer das crias, acrescentamos-lhe um andar. E um terraço cheio de nada. Sem que nunca tivesse sido uma casa atulhada, ficou mais despojada ainda. E com espaços vazios e disponíveis e brancos, à espera da cor que as pessoas trazem.
Quando aos fins de tarde me sento a olhar, pergunto-me muitas vezes se as obras por concluir não são uma forma de eternizar a construção, adiar a morte.
E enquanto não tenho respostas, os Outonos sucedem-se, o linho das camas mais puído desenha novas pregas, o rio engrossa.
E o vento há-de passar.

Carlos Nogueira

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