domingo, 21 de dezembro de 2008
NATAL
Ontem, no Jardim do Mar, cheirou a Natal.
Foi a melhor prenda que se pode receber. Esta família conquistou-me há já muito tempo, e nesta casa, de facto, é Natal todos os dias.
sábado, 13 de dezembro de 2008
domingo, 7 de dezembro de 2008
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
domingo, 30 de novembro de 2008
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
domingo, 23 de novembro de 2008
sábado, 22 de novembro de 2008
para a Patrícia
As Amoras
O meu país sabe a amoras bravas
no verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.
Eugénio de Andrade
terça-feira, 18 de novembro de 2008
domingo, 9 de novembro de 2008
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
sábado, 1 de novembro de 2008
domingo, 26 de outubro de 2008
terça-feira, 21 de outubro de 2008
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
domingo, 19 de outubro de 2008
domingo, 12 de outubro de 2008
terça-feira, 23 de setembro de 2008
quarta-feira, 17 de setembro de 2008
sábado, 13 de setembro de 2008
Eugénio de Andrade
SOUVENIR AFRICAIN
O gato aproximou-se, escutando também ele o silêncio hirto
das palmeiras, que são no horizonte a primeira coisa verdadeira
que nos assoma aos olhos, mesmo antes de haver o que
possa chamar-se claridade. O casario afogado no escuro respira
anónimo e reles, a face encardida, a fenda estreita da boca por onde dificilmente passará a luz, que de súbito rompeu no terraço e não tardará a escaldar. Depois o sol acalma, e lá para
o fim da tarde uma sombra mole escorre do muro para o cimento aquecido. É então que o gato se transforma em cadela, arrastando-se até aos nossos pés, deitando-se de costas, o ventre carnudo ávido do prazer profundo que lhe oferece por fim a mão.
5.6.85
quinta-feira, 11 de setembro de 2008
terça-feira, 9 de setembro de 2008
sábado, 6 de setembro de 2008
quinta-feira, 4 de setembro de 2008
Nina Simone
Ain't Got No... I Got Life
Ain't got no home, ain't got no shoes
Ain't got no money, ain't got no class
Ain't got no skirts, ain't got no sweaters
Ain't got no faith, ain't got no beard
Ain't got no mind
Ain't got no mother, ain't got no culture
Ain't got no friends, ain't got no schooling
Ain't got no name, ain't got no love
Ain't got no ticket, ain't got no token
Ain't got no God
What have I got?
Why am I alive anyway?
Yeah, what have I got?
Nobody can take away
I got my hair, I got my head
I got my brains, I got my ears
I got my eyes, I got my nose
I got my mouth, I got my smile
I got my tongue, I got my chin
I got my neck, I got my boobs
I got my heart, I got my soul
I got my back, I got my sex
I got my arms, I got my hands
I got my fingers, Got my legs
I got my feet, I got my toes
I got my liver, Got my blood
I've got life, I've got my freedom
I've got the life
I got a headache, and toothache,
And bad times too like you,
I got my hair, I got my head
I got my brains, I got my ears
I got my eyes, I got my nose
I got my mouth, I got my smile
I got my tongue, I got my chin
I got my neck, I got my boobies
I got my heart, I got my soul
I got my back, I got my sex
I got my arms, I got my hands
I got my fingers, Got my legs
I got my feet, I got my toes
I got my liver, Got my blood
I've got life, I've got my freedom
I've got life, I'm gonna keep it
I've got life, I'm gonna keep it
quarta-feira, 3 de setembro de 2008
O trabalho de tornar-se gente requer coragem para fazer-se agente da própria transformação – construir-se, estar no tempo e no espaço, considerar-se e ser o empreendedor de si como o negócio mais valioso. Este é um trabalho que vale a pena empreender, pois enquanto durar a vida haverá um círculo contínuo de todas as emoções possíveis.
terça-feira, 2 de setembro de 2008
segunda-feira, 1 de setembro de 2008
domingo, 31 de agosto de 2008
R.E.M.
Everybody Hurts
When the day is long and the night, the night is yours alone,
When you’re sure you’ve had enough of this life, well hang on.
Don’t let yourself go, everybody cries and everybody hurts sometimes.
Sometimes everything is wrong. Now it’s time to sing along.
When your day is night alone, (hold on, hold on)
If you feel like letting go, (hold on)
When you think you’ve had too much of this life, well hang on.
Everybody hurts. Take comfort in your friends.
Everybody hurts. Don’t throw your hand. Oh, no. Don’t throw your hand.
If you feel like you’re alone, no, no, no, you are not alone
If you’re on your own in this life, the days and nights are long,
When you think you’ve had too much of this life to hang on.
Well, everybody hurts sometimes,
Everybody cries. And everybody hurts sometimes.
And everybody hurts sometimes. So, hold on, hold on.
Hold on, hold on. Hold on, hold on. Hold on, hold on. (repeat & fade)
(Everybody hurts. You are not alone.)
(Lyrics are copyright R.E.M. unless otherwise stated as a cover version, in which case copyright is owned by that artist.)
When the day is long and the night, the night is yours alone,
When you’re sure you’ve had enough of this life, well hang on.
Don’t let yourself go, everybody cries and everybody hurts sometimes.
Sometimes everything is wrong. Now it’s time to sing along.
When your day is night alone, (hold on, hold on)
If you feel like letting go, (hold on)
When you think you’ve had too much of this life, well hang on.
Everybody hurts. Take comfort in your friends.
Everybody hurts. Don’t throw your hand. Oh, no. Don’t throw your hand.
If you feel like you’re alone, no, no, no, you are not alone
If you’re on your own in this life, the days and nights are long,
When you think you’ve had too much of this life to hang on.
Well, everybody hurts sometimes,
Everybody cries. And everybody hurts sometimes.
And everybody hurts sometimes. So, hold on, hold on.
Hold on, hold on. Hold on, hold on. Hold on, hold on. (repeat & fade)
(Everybody hurts. You are not alone.)
(Lyrics are copyright R.E.M. unless otherwise stated as a cover version, in which case copyright is owned by that artist.)
Acorda-me, para eu dormir em ti
Acorda os meus mundos para ti
Acende as minhas estrelas mortas mais perto de ti
Sonha-me fora deste mundo
Leva-me para casa, para a casa das chamas
Faz-me nascer, vive-me, mata-me mais perto de ti
Mais perto do Centro onde se nasce
Leva-me para onde for mais quente
Leva-me para mais perto, mais perto de ti.
Gunnar Ekelof
quinta-feira, 28 de agosto de 2008
a c a s a d e d e n t r o
por MIA COUTO
Certa vez, numa floresta de Niassa, no Norte de Moçambique, eu surpreendi uma casa em flagrante acto de nascer. Nascia sem ruptura: era, literalmente, dada à luz. Recordo a circunstância desse parto esquivo, desse imperceptível resvalar de natureza para coisa feita. Eram três os camponeses que nos acompanhavam para as margens do Rio Lucheringo, longe das linhas dos mapas. Nós dissemos: «o acampamento deve ficar aqui». Eles olharam o céu, revolveram o chão com os pés descalços e mediram as mais próximas ramagens. Em poucos minutos recolhiam os dados precisos: Luz, Sol, Vento, Chuva. Em menos de uma hora nós tínhamos uma casa erguida. Sem parafusos, sem pregos, sem cordas. Uma simples catana circulara de mão em mão e o golpe certeiro fizera surgir a estaca do tronco informe, a corda da casca fibrosa, o tecto do anónimo capim. Quando nos instalámos já tinha sucedido o milagre: a casa surgira do caos.
Ali iríamos trabalhar com inesperado conforto. Mais que conforto: em estado de pertença ao lugar. As tendas que leváramos acabaram não saindo dos carros. As barracas de campanha eram um abrigo sombrio, uma protecção contra o frio e os bichos nocturnos. Mas não chegavam nunca a ser casa. E nós agora éramos não residentes mas habitantes. A nossa cabana de pau a pique era um ventre com o universo todo dentro. Era como se estivéssemos habitando a árvore, como se a nossa presença ali fosse apenas sugerida, leve pegada de pássaro. Nessa varanda nós não recebíamos sombra. Nós éramos a sombra. Não estivemos na margem do rio. Nós fomos margem e rio.
Afinal, a casa não fora construída. Era como se ali tivesse sempre constado e as mãos apenas a tivessem revelado. E, contudo, tinha arquitectura, dimensões e divisões, quarto, cozinha e mesmo uma casa de banho com assento. Podíamo-nos sentar sob um improvisado alpendre que fazia de varanda e ali ficar a olhar a tarde. Os camponeses já há muito se haviam retirado mas eu continuava a sentir as suas mãos esvoaçando como asas em redor do ninho. Eu escutava essa permanência como um conforto de quem fez nascer sem que, em troca, nada houvesse que morrer.
Recordo-me de tudo isto para falar de Carlos Nogueira e sua pensada construção. Essa obra que nasce sem ruptura, como um acontecer sem causa, um desenho sem traço. A edificação que não revela o esforço: essa é a marca primeira da beleza. Um poema necessita, como condição primeira, de ser escrito. O maior inimigo do poema, todavia, é ser demasiadamente escrito. O mesmo se passa com a arquitectura. Carlos Nogueira escreve com a leveza de quem simplesmente diz, sussurra e instiga. Nele eu confirmo: os materiais da obra não são a pedra, o ferro, a tábua. São a luz, a sombra, a mão de quem sonhou.
Mais do que estruturas, o arquitecto desenha ausências, frestas solares, restos da noite. Quando ele crê que está fechando ele está entreabrindo. Onde se acredita haver parede prevalece um vão. Em tudo se desenha a eterna varanda onde olhamos a mentirosa paisagem exterior. Porque tudo se converte em interioridade, espaço ainda por desenhar, rosto sem outra moldura que não seja o nosso próprio olhar.
Carlos Nogueira me ensina como os sábios construtores de Niassa: a casa não é onde o homem se fecha. É onde o Homem se abre para dentro.
Julho 2005
In Carlos Nogueira, desenhos de construção com casa . e céu, Lisboa, Casa da Cerca,
Maio 2006, p. 72-76.
por MIA COUTO
Certa vez, numa floresta de Niassa, no Norte de Moçambique, eu surpreendi uma casa em flagrante acto de nascer. Nascia sem ruptura: era, literalmente, dada à luz. Recordo a circunstância desse parto esquivo, desse imperceptível resvalar de natureza para coisa feita. Eram três os camponeses que nos acompanhavam para as margens do Rio Lucheringo, longe das linhas dos mapas. Nós dissemos: «o acampamento deve ficar aqui». Eles olharam o céu, revolveram o chão com os pés descalços e mediram as mais próximas ramagens. Em poucos minutos recolhiam os dados precisos: Luz, Sol, Vento, Chuva. Em menos de uma hora nós tínhamos uma casa erguida. Sem parafusos, sem pregos, sem cordas. Uma simples catana circulara de mão em mão e o golpe certeiro fizera surgir a estaca do tronco informe, a corda da casca fibrosa, o tecto do anónimo capim. Quando nos instalámos já tinha sucedido o milagre: a casa surgira do caos.
Ali iríamos trabalhar com inesperado conforto. Mais que conforto: em estado de pertença ao lugar. As tendas que leváramos acabaram não saindo dos carros. As barracas de campanha eram um abrigo sombrio, uma protecção contra o frio e os bichos nocturnos. Mas não chegavam nunca a ser casa. E nós agora éramos não residentes mas habitantes. A nossa cabana de pau a pique era um ventre com o universo todo dentro. Era como se estivéssemos habitando a árvore, como se a nossa presença ali fosse apenas sugerida, leve pegada de pássaro. Nessa varanda nós não recebíamos sombra. Nós éramos a sombra. Não estivemos na margem do rio. Nós fomos margem e rio.
Afinal, a casa não fora construída. Era como se ali tivesse sempre constado e as mãos apenas a tivessem revelado. E, contudo, tinha arquitectura, dimensões e divisões, quarto, cozinha e mesmo uma casa de banho com assento. Podíamo-nos sentar sob um improvisado alpendre que fazia de varanda e ali ficar a olhar a tarde. Os camponeses já há muito se haviam retirado mas eu continuava a sentir as suas mãos esvoaçando como asas em redor do ninho. Eu escutava essa permanência como um conforto de quem fez nascer sem que, em troca, nada houvesse que morrer.
Recordo-me de tudo isto para falar de Carlos Nogueira e sua pensada construção. Essa obra que nasce sem ruptura, como um acontecer sem causa, um desenho sem traço. A edificação que não revela o esforço: essa é a marca primeira da beleza. Um poema necessita, como condição primeira, de ser escrito. O maior inimigo do poema, todavia, é ser demasiadamente escrito. O mesmo se passa com a arquitectura. Carlos Nogueira escreve com a leveza de quem simplesmente diz, sussurra e instiga. Nele eu confirmo: os materiais da obra não são a pedra, o ferro, a tábua. São a luz, a sombra, a mão de quem sonhou.
Mais do que estruturas, o arquitecto desenha ausências, frestas solares, restos da noite. Quando ele crê que está fechando ele está entreabrindo. Onde se acredita haver parede prevalece um vão. Em tudo se desenha a eterna varanda onde olhamos a mentirosa paisagem exterior. Porque tudo se converte em interioridade, espaço ainda por desenhar, rosto sem outra moldura que não seja o nosso próprio olhar.
Carlos Nogueira me ensina como os sábios construtores de Niassa: a casa não é onde o homem se fecha. É onde o Homem se abre para dentro.
Julho 2005
In Carlos Nogueira, desenhos de construção com casa . e céu, Lisboa, Casa da Cerca,
Maio 2006, p. 72-76.
terça-feira, 26 de agosto de 2008
À ESPERA DA COR
Não é sem algum pudor que falo da nossa casa. Escrínio da vida, como dizia Le Corbusier, lá se juntam afectos, longos silêncios, perguntas.
Lavada a sol a norte, lavada a sol a sul, dum lado há muitas árvores. Do outro, as árvores entram-lhe pelas varandas. E o espelho do mar também, que é como eu gosto de chamar ao céu.
Com o crescer das crias, acrescentamos-lhe um andar. E um terraço cheio de nada. Sem que nunca tivesse sido uma casa atulhada, ficou mais despojada ainda. E com espaços vazios e disponíveis e brancos, à espera da cor que as pessoas trazem.
Quando aos fins de tarde me sento a olhar, pergunto-me muitas vezes se as obras por concluir não são uma forma de eternizar a construção, adiar a morte.
E enquanto não tenho respostas, os Outonos sucedem-se, o linho das camas mais puído desenha novas pregas, o rio engrossa.
E o vento há-de passar.
Carlos Nogueira
Não é sem algum pudor que falo da nossa casa. Escrínio da vida, como dizia Le Corbusier, lá se juntam afectos, longos silêncios, perguntas.
Lavada a sol a norte, lavada a sol a sul, dum lado há muitas árvores. Do outro, as árvores entram-lhe pelas varandas. E o espelho do mar também, que é como eu gosto de chamar ao céu.
Com o crescer das crias, acrescentamos-lhe um andar. E um terraço cheio de nada. Sem que nunca tivesse sido uma casa atulhada, ficou mais despojada ainda. E com espaços vazios e disponíveis e brancos, à espera da cor que as pessoas trazem.
Quando aos fins de tarde me sento a olhar, pergunto-me muitas vezes se as obras por concluir não são uma forma de eternizar a construção, adiar a morte.
E enquanto não tenho respostas, os Outonos sucedem-se, o linho das camas mais puído desenha novas pregas, o rio engrossa.
E o vento há-de passar.
Carlos Nogueira
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